A Biblioteca Real de Alexandria
ou Antiga Biblioteca de Alexandria foi uma das maiores bibliotecas do mundo
antigo. Ela floresceu sob o patrocínio da dinastia ptolemaica e existiu até à
Idade Média, quando alegadamente foi totalmente destruída por um incêndio cujas
causas são controversas.
Alexandria, às margens do
Mediterrâneo, reinou quase absoluta como centro da cultura mundial no período
do séc. III a.C. ao séc. IV d.C. Sua famosa Biblioteca continha praticamente
todo o saber da Antiguidade, em cerca de 700 000 rolos de papiros e
pergaminhos. Seu lema era “adquirir um exemplar de cada manuscrito existente na
face da Terra”.
Acredita-se que a biblioteca foi
fundada no início do século III a.C., concebida e aberta durante o reinado do
faraó Ptolemeu I Sóter ou durante o de seu filho Ptolomeu II. Plutarco (46
d.C.–120) escreveu que, durante sua visita a Alexandria em 48 a.C., Júlio César
queimou acidentalmente a biblioteca quando ele incendiou seus próprios navios
para frustrar a tentativa de Achillas de limitar a sua capacidade de
comunicação por via marítima. De acordo com Plutarco, o incêndio se espalhou
para as docas e daí à biblioteca.
No entanto, esta versão dos acontecimentos
não é confirmada na contemporaneidade. Atualmente, tem sido estabelecido que a
biblioteca, ou pelo menos segmentos de sua coleção, foram destruídos em várias
ocasiões, antes e após o século I a.C.
Destinada como uma comemoração,
homenagem e cópia da biblioteca original, a Bibliotheca Alexandrina foi
inaugurada em 2002 próximo ao local da antiga biblioteca.
Considera-se que tenha sido
fundada no início do século III a.C., durante o reinado de Ptolomeu II, após
seu pai ter construído o Templo das Musas (Museum). É atribuída a Demétrio de
Faleros sua organização inicial. Uma nova biblioteca foi inaugurada em 2002
próximo ao sítio da antiga.
Conta-se que um dos incêndios da
histórica biblioteca foi provocado por César. Em caçada a Pompeu, o seu inimigo
de Triunvirato (formado por Pompeu, Crasso e ele), César deparou-se com a
cidade de Alexandria, governada na época por Ptolomeu XII, irmão de Cleópatra.
Pompeu foi decapitado por um dos
tutores do jovem Ptolomeu, e sua cabeça foi entregue a César juntamente com o
seu anel. Diz-se que ao ver a cabeça do inimigo César pôs-se a chorar.
Apaixonando-se perdidamente por Cleópatra, César conseguiu colocá-la no poder
através da força. Os tutores do jovem faraó foram mortos, mas um conseguiu
escapar. Temendo que o homem pudesse fugir de navio mandou incendiar todos,
inclusive os seus. O incêndio alastrou-se e atingiu uma parte da famosa
biblioteca.
A instituição da antiga
biblioteca de Alexandria tinha como o principal objetivo preservar e divulgar a
cultura nacional. Continha livros que foram levados de Atenas. Existia também
matemáticos ligados à biblioteca, como por exemplo Euclides de Alexandria. Ela
se tornou um grande centro de comércio e fabricação de papiros.
De facto, existiram duas grandes
Bibliotecas de Alexandria. A Biblioteca Mãe e a Filha. De início a Filha era
usada apenas como complemento da primeira, mas com o incêndio acidental (por
Júlio César), no século I, da Biblioteca Mãe, a Filha ganhou uma nova
importância. Vinham sábios de todo o mundo para Alexandria e debatiam os mais
variados temas. Em 272 d.C., durante a guerra entre o imperador Aureliano e a
rainha Zenóbia, a Biblioteca Filha foi provavelmente destruída, quando as
legiões de Aureliano tomaram a cidade de assalto.
A lista dos grandes pensadores
que frequentaram a biblioteca e o museu de Alexandria inclui nomes de grandes
gênios do passado. Importantes obras sobre geometria, trigonometria e
astronomia, bem como sobre idiomas, literatura e medicina, são creditados a
eruditos de Alexandria. Segundo a tradição, foi ali que 72 eruditos judeus
traduziram as Escrituras Hebraicas para o grego, produzindo assim a famosa
Septuaginta.
Tem-se pensado, sendo esta a
versão que ainda figura em muitos manuais de história, que a Biblioteca de
Alexandria foi incendiada, pela primeira vez, durante a invasão de César ao
Egipto em 47 d.C..
Esta teoria está hoje abandonada.
Na altura em que César mandou incendiar os navios do porto, terão ardido
simplesmente mercadorias, armazéns, e pacotes de livros que estavam no cais
para serem transportados para Roma.
A Biblioteca e o Museu terão sido
realmente incendiados, juntamente com o Bruquion, em 273 da era cristã, na
época do imperador Aureliano, durante a guerra com a princesa Zenóbia. Depois
deste acontecimento, a biblioteca foi reconstruída num Museu mais uma vez
renovado.
Em 391 d.C., o famoso templo de
Serápis (ornamentado com mármores, ouro e alabastro de primeira qualidade) que
também possuía uma biblioteca, foi destruído a mando do Patriarca cristão
Teófilo que dirigiu um ataque aos templos pagãos. Todo o bairro onde se situava
o templo, Rhaotis, foi então incendiado.
Em 642 d.C., data em que os
árabes ocuparam a cidade, não é possível dizer se a Biblioteca e o Museu ainda
existiam na sua forma clássica. Pensa-se que terá sido nesta época que os
livros da biblioteca terão sido destruídos. Conta-se que o Califa Omar teria
ordenado ao Emir Amr Ibn Al que procedesse à destruição dos livros que não
estivessem de acordo com o Corão.
Diz-se que o Omar teria
justificado a destruição com estas palavras:
«Se os escritos dos Gregos
concordam com as Sagradas Escrituras, não são necessários; se não concordam,
são nocivos e devem ser destruídos».
Mas, também a credibilidade desta
história tem sido contestada por muitos estudiosos. De qualquer modo, o
magnífico recheio da Biblioteca terá acabado nos fornos que, durante três
meses, aqueceram os numerosos banhos públicos da cidade. Apenas terão sido poupados
os livros de Arístóteles.
O que hoje resta desta lendária
biblioteca é uma cave húmida, esquecida nas ruínas do antigo Templo de Serápis
e algumas prateleiras bolorentas que sobreviveram até aos nossos dias (cave que
Carl Sagan, no 1º programa da série Cosmos, que vivamente recomendamos, nos
permite visitar).
A destruição da biblioteca de
Alexandria é um acontecimento de consequências incalculáveis. Sepultando para
sempre a esmagadora maioria das obras da Antiguidade clássica (por exemplo, das
800 peças de comédia grega apenas restam algumas obras de Plauto e Menandro), o
incêndio da Biblioteca de Alexandria constitui um dos mais dramáticos
acontecimentos de toda a História da cultura.
Como escreve Carl Sagan (1980:
30) “Existem lacunas na História da Humanidade que nunca poderemos vir a
preencher. Sabemos, por exemplo, que um
sacerdote caldeu chamado Berossus terá escrito uma História do Mundo em três
volumes, na qual descrevia os acontecimentos desde a Criação até ao Dilúvio
(período que ele calculava ser de 432 mil anos, cerca de cem vezes mais do que
a cronologia do Antigo Testamento!). Que segredos poderíamos desvendar se
pudéssemos ler aqueles rolos de papiro? Que mistérios sobre o passado da
humanidade encerrariam os volumes desta biblioteca?”