quarta-feira, 18 de setembro de 2013

QUETZALCOATL



O nome deste deus pertencente à mitologia americana significa "serpente-pássaro" ou "serpente com plumas" em asteca. Quetzal era uma palavra que designava algo de valioso ou de divino.Era considerado em algumas alturas filho de Xochiquetzal e Mixcoatl e noutras da deusa Coatlicue, tendo nascido juntamente com o seu irmão gémeo Xolotl da deusa virgem. 

Os reis e os sumos-sacerdotes tinham por hábito adotar nomes de divindades, daí que se encontrem ao longo da História muitos personagens com os nomes deste deus (como é o caso de um governante tolteca do século X denominado Topiltzin Ce Acatl Quetzalcoátl).
Apesar do seu culto se verificar principalmente nas tribos Nauatle, foi venerado por vários povos, entre os quais os Quiches, os Otomis, os Mixtecas, os Maias, os Astecas e os Toltecas, tendo-lhe cada um deles atribuído nomes diferentes. Assim, os Otomis chamavam-lhe Ndahi, os Maias Kuculkan e os Quiches Gukumatz. 

Erigiam-lhe templos circulares para que o vento não encontrasse nenhum obstáculo, pois Quetzacoátl era o deus do Vento (Ehecatl), representado por uma máscara com dois canos. Era também o inventor do calendário, da metalurgia, criador da vida, protetor das artes e um herói que defendia a paz e o saber. Foi ele quem ensinou aos Toltecas o engaste de pedras preciosas, o derretimento da prata, a medição dos ciclos do Sol e da Lua, o uso da pedra para edificar e a prática de habilidades como a de pintar sinais e figuras em livros.

A veneração deste deus ao qual ofereciam perfumes, flores e pão (apesar de em algumas tradições se incluírem os sacrifícios humanos) iniciou-se pelos Toltecas, em Tula, passando Cholula a ser o principal sítio de culto depois da invasão dos Astecas, que o tornaram num dos deuses mais importantes da sua devoção. Há representações sob a forma de serpente emplumada em vestígios nas cidades de Chichen - Itza e Teotihuacan. As representações mais comuns são as de um homem idoso vestido com uma túnica, de barbas brancas, com o corpo e a cara pintadas de negro e uma máscara imitando um focinho vermelho e bicudo.

Quetzalcoátl é também a representação do planeta Vénus ou a Estrela da Tarde, tendo-lhe sido dado o nome de Tlahuizcalpantecuhtli. Quando estava sob esta forma, na conjunção inferior do Sol e de Vénus, causava inúmeros infortúnios e morte a quem tocava com os raios. 

Esta divindade estava em permanente batalha com o também deus asteca Tezcatlipoca, omnipotente e vencedor dos Toltecas. Este representava os furacões que perseguiam e acabavam com as condições climáticas amenas e favoráveis à agricultura dadas pelos ventos alísios personificados por Quetzalcoátl. Esta é a justificação de Tezcatlipoca, o deus-feiticeiro, também se denominar Hurakan ("Furacão") e Yoelli Ehecatl ("Vento da Noite").

A casa de Quetzalcoátl era em prata coberta com as magníficas plumas dos pássaros maravilhosos que lá viviam e tinha quatro divisões que representavam os quatro pontos cardeais. A que estava virada a sul era revestida a conchas marinhas, a orientada a norte de jaspe, a que se encontrava na direção de oeste de turquesas e esmeraldas e a que se virava para oriente de ouro, sendo a casa povoada de servidores, entre os quais até havia anões. Quem vivia perto deste deus tinha tudo o que poderia desejar: o algodão nascia já tingido, as plantas sempre verdejantes e como Quetzalcoátl ofertou o milho ao seu povo este pôde fixar-se e progredir.

Quando Tezcatlipoca o baniu de Tula ele prometeu ao seu povo que voltaria, escondeu as riquezas na fonte de Cozcaapan onde nunca mais as foi buscar, queimou a casa e partiu com a sua comitiva. As lágrimas e as mãos do deus gravaram-se numa pedra, onde se encontram até hoje, quando após atravessar as montanhas o deus fez uma pausa e olhou na direção de Tula. Invadido então pela tristeza depois de se ver a um espelho e se ter sentido velho e impotente para salvar o seu povo, as lágrimas correram-lhe pela face abaixo. 

Alguns dos homens de Tula que escaparam ao assassínio de Tezcatlipoca juntaram-se ao deus, que lhes ensinou novos ofícios; no entanto, depois de atravessarem uma montanha de fogo e outra de gelo o deus viu-se só pois todos os seus acompanhantes tinham morrido. Compôs um cântico de lamentação e seguiu até à praia. Chegado aqui, dão-se duas versões dos factos: a primeira é a de que se transformou em cinzas depois de tirar a máscara de pele de serpente de cor turquesa e o traje feito de penas cintilantes e se ter atirado a um precipício. Destas cinzas saíram pássaros com plumagens coloridas que cantavam maravilhosamente e em direção ao céu voou o coração de Quetzacoátl que passou deste modo a ser chamado de Estrela da Tarde (Tlahuizacalpantecuhtli).

Há, no entanto, outra história que justifica o nome de Estrela da Tarde: Quetzalcoátl ter-se-ia enamorado de Tezcatlipoca, mas depois caiu em si e com os remorsos auto-incendiou-se. Foi então que o seu coração subiu ao céu onde ficou a brilhar.

A segunda versão é a de que o deus ao chegar à praia desapareceu no Golfo do México navegando numa jangada feita de serpentes e que voltará jovem algum dia. Essa é a razão de terem posto vigias à beira-mar e tornarem a conquista e imposição de Fernando Cortez em 1519 extremamente fáceis quando este chegou ao México. Reconheceram-no como Quetzalcoátl e Montezuma III, o imperador asteca, chegou inclusive a oferecer-lhe a máscara e o manto de plumas que identificavam o deus.A sua história valeu-lhe o título de senhor da morte e ressurreição, sendo também o protetor dos sacerdotes. 

Quetzalcoátl era o mais importante personagem no mito da criação ou dos "sóis" (vd. Mitologia Pré-Colombiana), acreditando-se que tinha ido para o mundo subterrâneo, Mictlan, e que lá tinha criado os Homens com a ajuda de Cihuacoatl, infundindo vida aos ossos de raças anteriores com o seu sangue. 

Se considerarmos também a versão do seu nascimento da deusa virgem, podemos facilmente encontrar um paralelo entre a sua história e alguns dos factos da vida de Jesus Cristo.

Nenhum comentário: